Burnout: Mais do que Excesso de Trabalho, uma Síndrome Geracional
Atualizado: 15 de out.
Falta de reconhecimento, criatividade tolhida e mau relacionamento com os colegas também podem desencadear a síndrome de burnout, uma condição que vai além do mero excesso de trabalho, a seguinte definição é fundamental para entender a complexidade da síndrome.
Burnout é definido pela CID-11 como o resultado do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso.
A primeira conclusão é que burnout não é uma simple doença, mas sim é um síndrome com um conjunto complexo de sintomas, não pode ser tratado com medicação e terapia como a depressão, por exemplo, tem que ser tratado integralmente entre todos os fatores que contribuirão a sua aparição.
Em segundo lugar, burnout é um fenômeno ocupacional, restrito ao ambiente de trabalho. A condição é ambiental, e sua solução exige mais do que terapia e medicação.
Em terceiro lugar, burnout é um quadro de estresse crônico. Estresse é qualquer situação que requer adaptação. Uma promoção ou o nascimento de um filho, embora positivos, causam estresse. Demissões, por outro lado, são estressantes e negativas.
Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR), explica que o estresse é a adaptação a novas condições, sejam elas boas ou ruins, o burnout é um estresse constante e, sem resolução, torna-se crônico.
Se o ambiente de trabalho exige esforço constante sem recompensa, o esgotamento é inevitável, seis meses assim, e você terá burnout.
As Três Faces do Burnout
Burnout se manifesta em três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e autodepreciação
A exaustão emocional é a característica mais marcante, pode ser física ou mental, ou ambos caracterizado por cansaço extremo, sensação de não ter energia para o trabalho, sensação de que o trabalho exige demais, fadiga, labilidade, agressividade, dores musculares
Despersonalização que é a atitude de insensibilidade ou hostilidade, atitudes e comportamentos mecanizados e burocratizados, ironia ou cinismo, incapacidade de relaxar, tendência ao isolamento, colegas e clientes são tratados como objetos, não como pessoas, esta faceta foi observada nas primeiras descrições de burnout em profissionais de saúde, que tratavam pacientes com desdém.
Autodepreciação que são os sentimentos negativos referentes ao trabalho e às realizações pessoais, perda de interesse pelo trabalho e até pelo lazer
Para um diagnóstico de Síndrome de Burnout, é necessário que as três características estejam presentes, o autodiagnósticos podem inflar números, mas o burnout é mais do que simples cansaço.
A Geração do Burnout
Em 2021, cerca de quatro milhões de americanos pediram demissão voluntariamente por mês. O fenômeno foi apelidado de "Grande Resignação". No Brasil, meio milhão de pessoas pedem demissão mensalmente.
Nos EUA, 40% dos que pediram demissão citaram burnout como principal motivo. Embora autodiagnósticos sejam imprecisos, a prevalência da síndrome não é um sinal de felicidade.
Burnout pode ter um componente geracional, uma pesquisa da Gallup revelou que 28% dos Millennials relatam burnout frequente, comparado a 21% das gerações anteriores, Millennials são mais propensos a falar sobre o problema e buscar ajuda, em vez de recorrer a substâncias como o álcool para aliviar o estresse.
O jornalista Anne Helen Petersen popularizou a ideia de que os Millennials são a geração do burnout, após a crise de 2008, muitos Millennials entraram no mercado de trabalho em condições precárias, com salários baixos e alta exigência, as empresas, visando corte de custos, passaram a contratar freelancers, sujeitos a jornadas exaustivas.
A cultura de "seguir seus sonhos" pode ser uma armadilha. A busca por um trabalho significativo pode levar os Millennials a aceitar condições ruins, empresas podem explorar essa devoção, ignorando os problemas enquanto questionam a dedicação do profissional.
Burnout é um problema profundo e complexo, refletindo as mudanças no ambiente de trabalho e as expectativas das novas gerações, a compreensão e a ação sobre essa síndrome são essenciais para um ambiente de trabalho saudável e produtivo.
Por outro lado o burnout é um problema que se está transformando numa pandemia mundial, livrar-se dela será uma tarefa complexa.
Pandemias sanitárias duram alguns anos, pandemias culturais atravessam gerações.
Concordo plenamente, combater o Burnout é um desafio de esforços contínuos para criar um ambiente de trabalho mais saudável e sustentável. Reconhecer o problema e implementar mudanças significativas nas condições de trabalho são passos cruciais para enfrentar essa "pandemia cultural" que ameaça a saúde mental das gerações atuais e futuras.